Sempre em descompasso, sempre deslocada. O Brasil vibrando pelo BBB e ansioso pelo carnaval e eu venho vos falar de FOME. Isso mesmo. FOME!
Ontem aconteceu algo que me tocou demais. Andava pelas ruas do nosso belo Centro da Cidade com uma garrafinha d'água. Naquele calor, um guri que devia ter no máximo 3 anos, todo sujo, pediu minha água, com o olhar mais triste que já vi na vida. A mãe olhava distante, com o rosto amargurado por não poder repreendê-lo. E eu dei a água, porque era o que tinha prá dar na hora, estava sem nada.
O abismo social que existe em nosso país sempre me afligiu. Não consigo nem gostaria de ser insensível a ponto de dar de ombros e fingir que não é problema meu... Há pessoas que passeiam indiferentes com bolsas que têm preços de apartamentos, comem sorvete com flocos de ouro, dentre outras futilidades, com a consciência super tranqüila. Não sou hipócrita a ponto de achar que todos deveríamos fazer voto de pobreza por conta da desigualdade social. Mas se não posso fazer tudo, faço tudo que posso.
Alguns me repreendem quando dou dinheiro aos que pedem na rua. "Você está contribuindo prá que esses vagabundos continuem ociosos", me dizem. Outros, "Não há emprego, mas sempre há trabalho para todos, por isso não dou". Há uma série de justificativas para não dar esmolas. Mas nenhuma me parece racional e lógica a ponto de convencer-me a virar as costas prá alguém que tem o estômago roncando.
Procuro pensar que, se aquela pessoa vai fazer mau uso do dinheiro, eu fiz minha parte ao menos. Muitos dirão, "fome nada, querem é comprar cachaça e drogas com o seu dinheiro". Pode até ser. Mas se alguem me diz que está com fome, eu olho nos olhos e acredito. As pessoas têm que párar com essa mania de desconfiança. Opiniões formadas sobre tudo, verdades absolutas. Não quer dar dinheiro porque não confia, Sr. dono-da-verdade? Leve o faminto pedinte ao restaurante e pague-lhe um almoço, oras. E me respeite, por favor.
Parafraseando Pessoa, estou farta de semi-deuses. De frieza, distância. Sinto compaixão, empatia. Passo na Av. Brasil e olho os moradores de rua com o coração apertado. Como deve ser ruim dormir ao relento. Passo na zona sul e fico olhando o contraste dos maravilhosos apartamentos em meio aos esgotos a céu aberto nas favelas. Aqueles rostos tem uma história, cada um com suas dores. Não são seres invisíveis, como querem crer alguns.
E não é só a miséria humana que me toca, mas a dos animais também. O especismo, os maus-tratos, as mortes desnecessárias e a vida indigna que alguns levam até chegar aos pratos. Não é papo de "vegetelho" não. Respeito quem come carne, mas só se o consumo for consciente. Não me venha dizer que não sabe dos impactos ambientais do consumo excessivo, porque no mundo de hoje falta comida mas não falta informação. Sempre choro quando passa um caminhão da Rica com frango ao lado do meu ônibus. Eles não têm bico, ficam feridos e doentes. E enjaulados em uma gaiola pequena prá carne ficar mais macia.
E o abandono então? Animais são abandonados nas férias porque os donos viajam. Idosos são abandonados pelos filhos porque dão muito trabalho. Tudo isso é conseqüência do individualismo, do ego-materialista. Temos que nos envolver, confiar, nutrir o mundo com nosso amor. Não me refiro apenas à caridade material, à moral também. Podemos sempre dar uma palavra de consolo, um bom conselho. Um ABRAÇO. Um olhar. Mas não nos omitir e fazer-nos de cegos. Porque todos somos SIM responsáveis pelo mal que ocorre em razão do bem que deixamos de fazer...
Prá não dizer que não falei de flores, e finalizar este reflexivo post, deixo quem os poetas falarem por mim:
"A gente não quer só comer
A gente quer prazer prá aliviar a dor.
A gente não quer só dinheiro
A gente quer dinheiro e felicidade".
(Titãs - Comida)
"Eu não tenho renda pra descolar a merenda
Cansei de ser duro vou botar minh'alma à venda
Eu não tenho grana pra sair com o meu broto
Eu não compro roupa por isso que eu ando roto
Nada vem de graça nem o pão nem a cachaça
Quero ser o caçador ando cansado de ser caça ".
(Zeca Baleiro - Babylon)
"Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas".
(Carlos Drummond de Andrade - Congresso Internacional do Medo)
É um breve suspiro ver algum ideal nessa geração. As pessoas andam pobres de compaixão. Bem pobres! Às vezes, pensamos estarmos sós na nossa busca por justiça social. Que Deus te ajude e te dê instrumentos para, na sua área, você ajudar essa população. Não há nada que me incomode mais no Brasil do que a desigualdade que existe e a não-preocupação dos que podem mais. Foi ridículo hoje, diante de tanta tragédia em Teresópolis e Nova Friburgo, o prefeito, em vez de trazer alento para as famílias e falar de providências que seriam tomadas, usar da Rede Globo de Televisão para adular a figura política já tão ovacionada do escroto do nosso governador. Não são as mães dos nossos políticos e demais poderosos as rameiras, são os próprios. Venderam a alma e quem precisa sofre! Beijos e obrigado pelo texto!!!
ResponderExcluirParabéns pelo post. Infelizmente é difícil tocar a todos com as palavras, mas acredito que os que leem o que você escreve não conseguem permanecer insensíveis. Mais do que julgar a sociedade, seu texto é capaz de fazer as pessoas pensarem a respeito de suas próprias atitudes. Eu costumo dizer que se cada um de nós fizer a sua parte, apenas isso, o mundo será um lugar muito melhor. Continue a divulgar a sua luz a todos, inspirando cada um de nós a ser um humano melhor.
ResponderExcluircurti
ResponderExcluirBruno Marte
Olá. Eu achei muito bom o teu blog. Eu acho importante a reflexão desse assunto que geralmente é proferido com segundas intenções (quase sempre partidárias). O teu desejo por justiça irradia, continue sempre assim para melhor.
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