sábado, 21 de julho de 2012

My favorite things




Como todo mundo que me conhece sabe, sou apaixonada por poesia. Fiz uma seleção dos meus poemas favoritos dos meus autores do coração! Espero que gostem. De quebra, uma crônica da Clarice, maravilhosa:

“Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui.”
(Clarice Lispector)

"Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas".
(Congresso Internacional do Medo - Drummond)



"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?"
(Traduzir-se - Ferreira Gullar)

“O Que Eu Adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento.
Graça que perturba e que satisfaz.
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida”
 (Manoel Bandeira -  Madrigal Melancólico)



"São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua".
(São Demais Os Perigos Desta Vida - Vinicius de Moraes)


"Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino, amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!"
(Eu - Florbela Espanca)

terça-feira, 3 de julho de 2012

Onde vivem os deuses



"Deus não se demonstra
Não está aqui ou ali
Não disse isto ou aquilo
Deus é uma experiência
Um pensamento antes da linguagem
Pois que não é uma palavra
Nem um conceito, nem uma ideia, nem uma filosofia...
Deus não é nada que possamos defender com palavras, com cascas de sentimento...
Deus é o puro sentimento
Deus não é o puro sentimento
Deus apenas é
“Ele passou por aqui” – diz-nos a testemunha
Passou pela alma, tal qual leve brisa a escorar pelo ombro...
“Onde foi agora?”
Para todo lugar
Para nenhum lugar
O agnóstico tem razão ao dizer que não podemos compreender a Deus, nem a existência de Deus...
Assim como os poetas não podem compreender a poesia, o amor...
O amor é como um pássaro fugidio
A sombra de uma nuvem – um leve acinzentado pairando pela paisagem
O animal fantástico, a Fênix!
Há muitos poetas-caçadores que tentaram captura-la, mas nenhum deles jamais trouxe a prova...
Nenhuma pena da Fênix para contar a história
Apenas a experiência
O deslumbre e o espanto
De observar a mais bela das aves a voar...
Mas, e onde estaria agora, para onde teria voado?
A ave do amor voou para além do horizonte da linguagem
A fronteira entre a sua terra e a terra do pensamento
Parece-nos intransponível...
Somente os poetas-loucos souberam construir essa tal ponte
Entre a razão e o amor
Em seus pensamentos há uma luz que brilha ainda antes que possam dizer:
“Estou pensando”
E então dizem o que não podem dizer:
“Estou pensando no amor”
“Estou pensando em Deus”
Há essa ponte entre duas terras:
A terra onde tudo está separado em pequenas caixas, como segredos hermeticamente fechados;
E a terra onde tudo jaz junto, unido, conectado...
O amor é a ponte
O amor é uma fonte
Deus está a aguardar na outra margem
Deus não está a aguardar na outra margem
Deus é uma experiência".
(Raph Arrais - Onde vivem os Deuses)

O belíssimo conto é do meu amigo Rafael Arrais. Ele comentou que se inspirou para o texto em um debate sobre a possibilidade de haver pensamento sem linguagem. Colocou umas pitadas de taoísmo e o resultado ficou belíssimo. Realmente me pareceu um debate entre um agnóstico e um espiritualista. Fiquei muito emocionada e orgulhosa dele, então não vou comentar muito, deixarei que cada um tenha suas próprias impressões... Eu, particularmente, amei.

sábado, 23 de junho de 2012

Rede antissocial




Conectados?
Estávamos cada vez mais distantes!
Separados por uma tela fria 
A ilusão de união logo se desfaz:
O virtual e o real não se misturam mais


Longas conversas e risadas 
São substituídas por promessas vagas
Teclas e "cutucadas"
"Vamos marcar"?
"Sim, vamos! Quando o computador pifar!"


Quem não está na rede social
Não parece real
Não existe
Não tem 500 amigos
Não é legal


"Por que não fui convidado?"
"Porque não está no facebook!
Esqueci de você...
É um excluído, um alienado!"


A megalomania controla seus dias
"Olhem a foto do meu almoço"!
"Como sou linda"! "Dá aí uma curtida?"
Somos insetos, presos em uma teia:
A da integração antissocial. 


Ainda prefiro olhos nos olhos
Contato físico, abraços e afagos
Poucos amigos, mas reais:


Que vêm até a minha casa, me telefonam
Se preocupam e compartilham
Não imagens no meu mural
Mas dores, lágrimas, alegria
E muito mais..."
(Natalia B.)






Escrevi esse poema refletindo sobre como as pessoas têm utilizado as redes sociais, a internet, que muitas vezes, ao invés de aproximar quem está longe, acabam afastando quem está perto. Obviamente não acredito que sejam um "mal" em si mesmas. A internet apenas reflete os conflitos e anseios que ocorrem na sociedade: individualismo, egoísmo, materialismo... Mas também podem ser utilizadas para o bem, para divulgar boas ideias. 

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sempre Juntas

"Segurar a sua mão
Nos momentos de medo
Nos dias difíceis e nos alegres
Sempre foi meu alívio e consolação.

Estávamos sempre juntas,
Todos os dias.
Brigando ou sorrindo
Nossa jornada era de união!

Nos primeiros dias de aula,
Quando a ninguém conhecia
Olhava minha irmãzinha e sorria...
Com você jamais conheci a solidão.

Quando sofremos a maior perda de nossas vidas
(nosso paizinho não estaria mais fisicamente conosco)
Encontrei em você a solução:
Parte dele comigo permanecia.
Os olhos, o coração e a sua companhia.

A verdade é que somos diferentes
Mas somos iguais
E nunca ninguém vai me entender como você
Nem estar ao meu lado como você está e esteve
Porque o nosso passado, presente e futuro é assim:
Sempre juntas, maninha, até o fim".
(Natalia B.)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Autobiografia de um poema

"Queria mostrar suas entranhas e exibir suas cicatrizes com orgulho. Ora, não era isso que os poetas faziam? É preciso coragem para expor seus medos e falhas. Não há como um escritor fugir de si mesmo. Como espectador do mundo e ator principal de sua própria vida, ele a vive intensamente, e a partir de sua percepção, observa, reflete, escreve e devolve ao universo aquilo que recebeu: sua sensibilidade. Mas o filtro era ele mesmo! Por isso ela costumava dizer que cada poema era como um parto, um filho. É igualmente um exercício de empatia, de compaixão. Pois quando não escrevemos sobre nossas próprias experiências, escrevemos sobre as de outrem, porém, como se as tivéssemos vivido na pele". (Natalia B.)


sábado, 28 de abril de 2012

E a poesia retorna... (2)



"Existia uma menina
Com o olhar sempre puro e cheio de esperança
Ela brincava, sorria, e deixava o mundo mais colorido com sua alegria!

Certa vez disseram-lhe que era louca...
Outros se aproveitaram de seus bons sentimentos.
E novamente sua alma sangrou
Porque a menina era feita de carne e osso.
Ela sofria, mas esquecia e seguia em frente, sem perder sua essência!

O brilho em seus olhos, sua inocência e meiguice
Só cresciam, conforme ela amadurecia.
Com o tempo ela foi percebendo o quanto era única e especial
E continuou espalhando sua pureza pelo mundo:

Plantando flores e fazendo amigos por onde passava
Sem se importar com os pobres de espírito.
E aprendeu a não deixar  que sugassem sua energia:
Quanto mais seu enorme coração perturbava os pequenos
Mais ela sorria!"
(Natalia B. - "A menina")