quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Humildade.

Aos que ainda não tiveram o prazer de ler Cora, deliciem-se.
Os que já conhecem também relerão com prazer.




Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”
(Cora Coralina)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Fuga.


Como é fácil ser difícil. Basta ficar longe dos outros e, desta maneira, não vamos sofrer nunca.
Não vamos correr os riscos do amor, das decepções, dos sonhos frustrados.
Como é fácil ser difícil. Não precisamos nos preocupar com telefonemas que precisam ser dados, com pessoas que pedem nossa ajuda, com a caridade que é necessário fazer.
Como é fácil ser difícil. Basta fingir que estamos numa torre de marfim, que jamais derramamos uma lágrima.
Basta passar o resto de nossa existência representando um papel.
Como é fácil ser difícil. Basta abrir mão do que existe de melhor na vida.
(Paulo Coelho)



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Auto-retrato".



Hoje,
Essa tela em branco me dá calafrios...
Outrora, era criativa
Escrevia sobre a Lua, sobre o Solstício,
Escrevia livremente sobre a magia.
Agora, tudo mudara.
Aquela liberdade, aquela intensidade se foi.
Deixaram em seu lugar uma mulher.
Uma mulher que queria ser mais madura e discreta.
Uma mulher que não se revelava para todos.
Cheia de mistérios e devaneios
Que cria serem melhor mantidos em segredo.
A essência, no entanto era a mesma:
Gargalhadas altas exaltando a espontaneidade
Olhos observadores, sempre atentos a cada momento.
A verdade é que, por vezes, me via farta de mim mesma.
Das minhas falhas, dos meus impulsos.
Mas no final eram eles me sustentavam
E também eram parte daquela menina
Que existira em mim um dia
Que ora me abandonava
Ora me trazia vida.
(Natalia B. in "Self-portrait")